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As primeiras levas de retornados que deixaram a Brasil viajaram deportados da Bahia, por suspeita de participação na Revolta dos Malês, ou acompanhando alguém que havia sido deportado. Nos anos seguintes, outros partiram voluntariamente, em busca de suas origens, ou simplesmente fugindo da perseguição e da falta de oportunidades de um país que ainda engatinhava no processo de emancipação de seus escravos.

Instalaram-se na região do Golfo da Guiné, em cidades como Lagos, Uidá, Porto Novo, Lomé ou Acra, constituindo comunidades que se distinguiam das demais pela sua “brasilidade”: a maneira de falar, se vestir, cozinhar, dançar, cantar, rezar ou construir. Com o passar dos anos e o fim do tráfico negreiro, alguns desses retornados migraram para o interior da África. Os que ficaram no litoral contribuíram para a prosperidade das sociedades às quais se integravam, desenvolvendo o comércio de produtos como o dendê, que vendiam à Europa, e daqueles que traziam do Brasil, como a aguardente, a carne seca e o fumo de rolo. Constituíram então uma pequena burguesia capitalista, feita de artesãos, agricultores e comerciantes, num lugar em que o capitalismo ainda era desconhecido.

O final do século XIX viu o apogeu dessas comunidades. Foi quando prosperaram as suas maiores fortunas e cresceram os bairros ditos “brasileiros”, em cidades como Lagos, Porto Novo e Uidá, com seus sobrados e suas igrejas de estilo arquitetônico nacional. No início do século XX, partiram do Brasil os últimos navios com destino a Lagos, onde ainda alguns velhos libertos decidiam morrer. Meio século depois, já não se encontram sequer os da terceira geração.

Apesar disso, passados quase dois séculos da primeira viagem de retorno, esses retornados, chamados agudás no Benin e Tabom em Gana ainda formam uma comunidade singular, unida por sobrenomes brasileiros e uma história que todos gostam de citar. As novas gerações, no entanto, enfrentam um dilema cada vez mais urgente: manter-se fiéis a uma tradição que faz deles estrangeiros em sua própria terra ou abandonar o passado que foi o de seus avós.

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